JOÃO ESQUINA A TRAJETÓRIA DE UMA VIDA
JOÃO ESQUINA A TRAJETÓRIA DE VIDA DE UM FILHO DE I
No final tudo deu certo.....
Não precisou ser cruel e nem esperto.
Só fez aquilo que é certo.
Na coluna Vamos Recordar da página São Francisco, desses 16 dias de março do ano de 2021, apresento a história de vida do ilustre senhor João Esquina.
Quem narra os fatos históricos desse filho de imigrantes espanhóis que teve uma participação ativa em nossa cidade, é seu primogênito professor Antônio Esquina.
VAMOS RECORDAR
Nascido em Ibitinga SP, aos 5 de maio de 1922; filho de Simão Esquina e Josepha Martinez Esquina (ambos espanhóis); aos dois anos perdeu o pai, tragicamente afogado no rio Jacaré, enquanto pescava em rude canoa; dois meses depois, nasceu sua irmã Josefa, pois minha avó estava grávida de 7 meses quando ocorreu o triste fato; dois anos mais tarde ela se viu “obrigada” a casar-se de novo, pois sozinha não conseguia sustentar-se, bem como aos dois filhos pequenos; João Peres, foi segundo marido, também espanhole também viúvo, trouxe para o segundo casamento, três filhos menores: Francisco, Antônio e Francisca, os quais se juntaram aos dois de minha avó (João e Josefa Esquina); desta nova união nasceram mais 7 rebentos: José, Isabel, Carmem, Eduardo, Dolores, Antônio e Iraceles; ainda jovem, João Peres veio a falecer e João Esquina, recém-casado e pai de um filho (Antônio Esquina Dias) foi obrigado assumir a direção da família, tanto no trabalho, como na educação propriamente dita de seus manos menores (Eduardo, Dolores, Antônio e Iraceles), além de atenção especial para Carmem, portadora de deficiência mental.
Trabalhavam todos, inclusive a matriarca, Josepha Martinez Esquina Perez, na lavoura cafeeira da Fazenda Leozi, região de Nipoã e José Bonifácio; eram felizes, muito felizes, mas em 1954 registrou-se uma grande geada que destruiu em de 80% as então produtivas lavouras de café!
Todos os meeiros foram atingidos e a maior parte deles, juntando o “dinheirinho” auferido e guardado discretamente durante vários anos, resolveram deixar a “sagrada” fazenda, como era chamada, e aventuraram-se pelas plagas de Palmeira d’Oeste, município recém-nascido e cujas terras havia uma gleba que estava sendo loteada a preços condizentes com a situação daqueles heróis; dava-se uma entrada e o restante era dividido em seis prestações (anuais): 30 de setembro de cada ano era o vencimento, sem juros, nem correção monetária; com um detalhe: quem não pagasse a referida prestação, perdia o terreno e o que havia pago!
Esta epopeia data de 1º de outubro de 1955! A fazenda loteada localizava-se a seis quilômetros de Palmeira d’Oeste, que começava a crescer com seus ranchos de sapé e casas de pau-a-pique; tal fazenda iniciava-se na cabeceira do Córrego do Botelho (que era só baixada nessa época, sem água corrente) e ia até a nascente do Córrego da Ponte Pensa, na outra extremidade ficava o Córrego da Anta! (Ressalva-se que o atual Rio Ponte Pensa que deságua no Rio Paraná, passando por Três Fronteiras, é exatamente o mesmo, ou seja, tem sua origem aqui em São Francisco, na confluência ou junção dos ribeirões Botelho, Tapera, Fandango e outros).
Até início de maio de 1958, João Esquina, já com quatro filhos: Antônio, Oripes, Josefina e Maria de Fátima, formava com a ajuda sempre constante de sua esposa, Mathilde Dias Monteiro Esquina (nossa saudosa mãe), as lavouras de café que em pouco mais de quatro anos já estavam produzindo e muito, o que aconteceu até os meados de 1985. Também se cultivava arroz, milho, amendoim, algodão e outros cereais; com o que se auferia da venda dos produtos, se pagavam as prestações referidas acima. O “comércio”, como se dizia na época, era Palmeira d’Oeste: lá se adquiria o tecido para nossas roupas, açúcar, sal, querosene e medicamentos.
Mas, em 1958, exatamente no dia 3 de maio, o Dr. Euplhy Jalles, de saudosa memória, através de seu fiel escudeiro e representante, José Pinheiro, fundou então povoado e homenageou seu pai dando o nome de: São Francisco! Meu pai, montado em égua branca por nome de Andorinha, veio, mesmo debaixo de chuva, participar da fundação oficial do “patrimônio”; ajudou a erguer o Cruzeiro, inteiramente de aroeira, lavrado por José Martinez Garcia e outros abnegados cristãos que retiraram o madeiro da chácara da Família Ávila, gentilmente cedido pelo senhor Jaime Ávila; após a Missa celebrada pelo inesquecível Padre Geraldo Coenn (sob um guarda-chuva segurado pelo querido João Mantovani), o senhor João Esquina e outros presentes deram início à queima de alguns “foguetes” que rompiam a chuva que caia e espocavam no ar nublado, saudando o nascimento da nova comunidade!
João Esquina participou ativamente da criação da primeira escola da região, encravada no Córrego do Botelho, propriedade de Gabriel Rodrigues de Carvalho, criador da referida escola, isso em 1956; tal escola recebeu o nome de “1ª Escola Mista da Fazenda Santa Izabel”.
Já em São Francisco, sua participação foi mais no campo religioso: colaborou com a limpeza do terreno e na construção do 1º Coreto, participou ativamente na construção do famoso “Barracão”, onde foram celebradas as primeiras missas, novenas e outras atividades religiosas; participou na construção do prédio da Igreja Matriz, inclusive no seu reerguimento, após a tempestade de final dos anos 60; também deu grande colaboração para a construção das cercas que protegiam o Cemitério recém-formado (cercas construídas com lascas de aroeira, conseguidas na base do machado, “maio” ou marreta e cunhas).
Nas quermesses anuais que a Igreja realizava sempre no mês de maio, João Esquina colaborava com as sacas de café em coco, ofertas diversas, além de participar ativamente dos leilões que eram promovidos pela Congregação Mariana, tudo em prol da comunidade religiosa.
Em 1996, após celebrar suas Bodas de Ouro, estando à beira do Rio São José dos Dourados, quando se preparava para subir em seu “bote”, sofreu um AVC-I que o deixou paraplégico e afásico por quase 16 anos; razão pela qual foi trazido para residir em São Francisco, que ele tanto amava!
Faleceu em 17 de abril de 2013, vinte dias antes de completar 91 anos. Foi um homem simples, pouco alfabetizado, trabalhador, coerente em suas atitudes e, acima de tudo, honesto em tudo que fazia! Orgulho-me de ser seu primogênito!
(Filho: Professor Antônio Esquina Dias)
Aquele abraço